domingo, 28 de março de 2010

Keep Off The Grass: A Scientific Enquiry Into the Biological Effects of Marijuana


Escrito em 1979 pelo médico Gabriel Nahas, fortemente combatido por não apresentar sistemática consistente além de não apresentar referências sobre as centenas de assertivas supostamente científicas que faz contra a planta Cannabis Sativa. É um proibicionista que reza em nome da industria farmacêutica. Detalhe da capa do livro: fundo branco com um feto envolvido por folhas de cannabis, sensacionalista, como todo o texto lateral e vicioso.  


"Aos poucos estamos nos tornando bonecos, que dançam quando os cordões são puxados pelos fabricantes de drogas. Procuremos inverter o processo antes que seja tarde demais"
Dr. Mário Victo de Assis Pacheco, A Máfia dos Remédios



Capítulo 2 – A História da Marijuana

Durante as semanas seguintes estava ocupado com meu trabalho regular no laboratório e preparando uma série de leituras que faria na universidade de Paris, onde recentemente tinha sido eleito professor adjunto e onde passaria minha licença da Columbia. Mas eu não poderia esquecer o problema da marijuana e meu compromisso com sua solução. De fato, não há uma semana sem noticias de prisão de jovens por fumar marijuana. Ao mesmo tempo, vozes das universidades saem em defesa desses presos, afirmando que marijuana é um “intoxicante leve, menos perigoso que o álcool e o tabaco e que poderia ser legalizado e comercializado”.

Em minha preocupação, observei nossa filha mais velha mais de perto procurando por sinais de intoxicação. Seu comportamento continuava como antes: estava envolvida em seu atarefado calendário escolar; ela andava diariamente uma milha até a escola; tinha bom apetite, estudava regularmente toda noite e nem sequer fumava tabaco. De qualquer forma, ela estava relutante em discutir o assunto comigo por não querer entregar suas amigas. Mas eu sabia que algumas garotas já haviam experimentado marijuana. É típico, um dia uma garota chegaria na escola com um baseado que conseguiu do irmão ou irmã mais velha, o cigarro passaria na hora recesso ou do almoço, com o desafio aos mais jovens de fumar para tornar-se sofisticado ou entrar no grupo. Minha filha estava convencida que muitas garotas só fumavam pelo medo de serem chamadas de “quadradas”. Enquanto a maioria das experimentações ocorria do lado de fora da escola, alguns jovens fumavam marijuana regularmente nos dormitórios femininos.

Eu discuti o problema da marijuana com alguns colegas da Columbia, expressando meus medos. Um cirurgião falou a muitos dos meus coligados: “tudo isso é só uma moda da juventude e logo desaparecerá. A pior coisa que poderíamos fazer é dramatizar o assunto”.

Na França também havia preocupação com a marijuana. Por esta razão, decidi usar a droga como assunto em uma das minhas leituras na universidade de Paris.

Durante os meses seguintes iniciei a leitura de todos os documentos sobre marijuana que pude obter da biblioteca médica da Columbia e da universidade de Paris. A maioria da literatura continha mais aspectos históricos e anedóticos do que documentos científicos e informações farmacológicas.

Primeiro aprendi que existem duas variedades principais da planta marijuana – ou Cannabis Sativa, o nome latino usado pelos botânicos – o tipo fibroso (para extração das fibras) e o tipo entorpecente (para uso médico-religioso).
Na Europa, o tipo fibroso é conhecido como “hemp” (maconha) sendo usado para o fabrico de cordas desde o século X. Foi introduzida na América pelos primeiros colonizadores. O cultivo deste tipo de marijuana, que contém pouca substancia entorpecente, foi descontinuado com o advento das fibras sintéticas. (há aqui um engano: a cannabis foi proibida oficialmente nos EUA antes da guerra, 1937; o uso das fibras sintéticas ganhou espaço após a guerra, cerca de 1950) Em contraste ao tipo fibroso, o tipo entorpecente é cultivado pela substancia intoxicante nas flores da planta. Este tipo de planta requer clima quente e seco e um solo fértil com determinada composição orgânica. As áreas ideais para plantio estão localizadas nas montanhas e colinas das regiões semitropicais: México, Colômbia, Montanhas Rif no Marrocos, Líbano e baixo Himalaia.

A planta é considerada pela maioria dos botânicos como simples, espécie não estabilizada com mais de cem variedades. Muitas dessas variações devem-se a uma certa plasticidade genética, às influencias ambientais, a manipulação humana, não especificamente à região de origem. Em latim cannabis quer dizer maconha e denota o gene das plantas dessa família, sativa quer dizer plantada ou cultivada, indica a espécie e a natureza do crescimento da planta. Outros adjetivos são adicionados para indicar a variedade, de acordo com a localização geográfica. Por exemplo: Cannabis Sativa Indica é a planta que cresce na Índia.

Falando vulgarmente, a ampla distribuição geográfica da canabis sativa refere-se aos diferentes nomes dados à variedade entorpecente da planta assim como aos seus derivados intoxicantes. A lista de drogas entorpecentes sob controle publicada pela ONU em 1968 deu 267 nomes para a planta Cannabis Sativa e os derivados a partir dela, embora os nomes mudem entre si de lugar para lugar. O termo Cannabis Sativa é mais exato e usado para Cannabis Sativa e seus subprodutos. Em Marrocos e na costa norte da África o termo é Kif; no Oriente Médio, Egito e Irã é conhecida como Haxixe; na Índia a bebida feita pela infusão das folhas e flores é chamado Bhang, enquanto Ganja refere-se à resina produzida que é e fumada. Este nome também é usado na Jamaica, onde a planta foi introduzida por trabalhadores indianos. O nome familiar usado nos EUA e Canadá, marijuana, vem do México. O nome haxixe também é usado, mas para descrever uma preparação mais forte. É o termo mais usado na Europa.

Desde a virada do século, os derivados da Cannabis Sativa, assim como os da papoula (fonte de ópio, morfina, heroína) e de folhas de coca (fonte de cocaína) são consideradas por acordo internacional como substâncias entorpecentes extremamente perigosas ao homem e a sociedade, cujo uso deve ser estritamente restrito aos propósitos médicos.

O uso do tipo entorpecente de marijuana começou há mais de 4000 na China. É atribuído ao imperador e farmacêutico Shen Nung, cujo trabalho cientifico recomendava o uso da planta como medicamento para todos os propósitos. Embora incluída na farmacopéia chinesa por milhares de anos a presença da cannabis nunca foi relevante, os chineses tinham conhecimento de substancias psicoativas mais fortes para aliviar suas dores e mascarar a rotina do dia a dia.

O primeiro indicativo que a cannabis foi usada por um grande numero de pessoas mais pelos efeitos de alteração mental do que pelos efeitos medicinais data de 2000 a.C no subcontinente indiano, sendo considerada planta sagrada para uso em ritual religioso. Sacerdotes cultivavam a planta nos jardins dos templos, colhendo as folhas, caules e flores para preparar um liquido extremamente potente chamado “bhang”. Este liquido supostamente promoveria a “aproximação com Deus”, quando bebido antes de cerimônias religiosas. Os indianos descrevem o bhang como “fonte de prazer”, “uma viagem pelo céu”, “fonte de felicidade”, adjetivos que afirmam seus poderes provocadores de euforia. Um poeta persa à época prontamente escreveu “nós bebemos bhang e Deus nos é revelado – uma grande revelação para um pequeno pecado”.

A formula para o preparo do bhang foi cuidadosamente guardada pelos sacerdotes para que fosse usada apenas com propósitos religiosos, como o vinho sagrado ou a água benta. Mas o segredo não durou muito, a planta era encontrada crescendo naturalmente em muitos lugares e logo percebeu-se que a bebida poderia ser preparada em casa com a mesma facilidade do que no templo. Além disso, foi descoberto que os efeitos psicoativos da cannabis poderiam ser alcançados mais facilmente simplesmente fumando as mesmas flores com as quais se prepara o bhang. A partir dessas descobertas foi organizado um metódico sistema de cultivo e distribuição dos subprodutos da cannabis – sendo lucrativo para quem organizou – e logo empregado. Desta maneira, medicina ocasional ou elixir religioso, a cannabis tornou-se rapidamente disponível e largamente usada como entorpecente.

Da Índia a cannabis difundiu-se pelo Oriente Médio. Mais uma vez a religião teve papel determinante na introdução da droga entre a população. Desde que a fé islâmica especificou restrições ao uso do álcool, houve um imediato e intenso interesse por um substituto que pudesse produzir a mesma euforia sem incorrer o usuário em um pecado mortal.

O nome árabe para o extrato da cannabis usado no Oriente Médio é “hashish” que traduzido para o inglês quer dizer “grass” (que traduzido para o português quer dizer “grama”). Um monge que vivia nas montanhas do Rama cerca de 500 d.C, disse a seus seguidores: “o Deus onipotente ofereceu a vocês um favor especial: as virtudes dessa planta, que dissipará as sombras que enevoam sua alma e embaçam seu espírito”. Com tantos apelativos religiosos, não é de admirar-se que tantas pessoas estivessem fumando haxixe pelos seus efeitos entorpecentes?

As invasões árabes do século IX ao século XII introduziram a cannabis no norte da África, do Egito para o leste da Tunísia, Argélia e oeste do Marrocos. Primeiro usada pelos intelectuais e poetas da época, a droga encontrou rápida aceitação entre o povo. A única terra conquistada pelos árabes onde o uso da cannabis não se difundiu largamente foi a Espanha. Embora hajam evidencias que algumas pessoas fumavam haxixe, a maioria dos espanhóis o evitaram. Alguém pode especular sobre a disponibilidade de vinho e a falta de ordenação religiosa contra o álcool encerrou a possibilidade de um mercado popular de cannabis.

No Oriente Médio, entretanto, a permanente condição para o cultivo da cannabis estava tendo efeitos na vida e no ritmo social da população, alguns desses efeitos sutis outros dramáticos. “As Mil e Uma Noites” foram escritas quando o uso do haxixe e do bhang estavam difundindo-se pelo norte da África. Uma leitura cuidadosa dos versos originais destes trabalhos nos mostra que os autores freqüentemente referiam-se a cannabis e seus efeitos psicotrópicos. Isto talvez pode explicar a idéia de um “tapete-voador”.

Os maiores efeitos da difusão do uso da maconha, no entanto, foram sentidos no Egito. De acordo com o historiador árabe Magrizy, o haxixe chegou no Egito no século XIII em uma época de prosperidade social, cultural e econômico. De inicio foi aceita e usada primeiro pelas classes mais ricas como forma de prazer. Quando os camponeses adotaram o hábito, no entanto, significou uma forma de alivio à monotonia do dia a dia. Não há como, é claro, medir quais os efeitos que o uso do haxixe teve na produtividade e na força nacional da civilização árabe. Não foram feitos estudos na época, observações de causa-efeito vieram séculos mais tarde. Todavia, o aparecimento dos derivados da cannabis no Oriente Médio coincidiu com o período de grande declínio em que o Egito caiu da condição de potencia política à posição de estado agrícola escravo, explorado por governantes circassianos, turcos e europeus.

Como muitas vezes acontece, o declínio rápido de uma nação faz com que o povo acentue o uso do que apressou sua queda. O habito do haxixe tornou-se tão comum entre as massas que alguns sultões e emires tentaram proibir seu uso, mesmo sabendo estar indo contra uma pratica adotada em larga escala pela população. No século XIV, emir Soudouni Schekhouni ordenou que todas as plantas de cannabis fossem arrancadas e destruídas e todos os usuários da substancia fossem condenados a ter todos os dentes arrancados sem o beneficio da anestesia. Infelizmente, esta perspectiva dolorosa teve pouco efeito no habito nacional de consumir haxixe.

Napoleão também tentou refrear o uso do haxixe. Quando a França conquistou o Egito em 1800, um oficial observou que “a massa da população masculina está em constante estado de torpor”. Esperançoso de ver alguma vida na nação estagnada, mas também querendo proteger seus soldados, Napoleão decretou que “o uso do forte liquido preparado por alguns muçulmanos com uma certa erva chamada haxixe, bem como fumar as flores da planta, está proibido em todo o Egito”. Embora não tenha especificado nenhuma restrição às tropas, o poderoso imperador francês teve poucos problemas com o abuso da cannabis no mundo muçulmano.

Embora houve um intercambio comercial e cultural entre os mundos árabe e europeu em torno do Mediterrâneo durante esse período, o habito de usar cannabis nunca fez parte da troca. Isto ainda era verdade quando as maiores potencias européias, França e Inglaterra, entraram na era colonial nos séculos XVIII e XIX. Embora um grande numero de militares e civis passaram longos períodos de tempo onde a intoxicação por haxixe era comum, não há evidencias que os europeus foram atraídos por ela. Como escreveu um historiador, “parecia ser uma extravagância cultural tão absurda que impeliu os europeus a adotar estes hábitos orientais”.

Quando as substâncias tóxicas da cannabis sativa foram introduzidas no ocidente no meio do século XIX, os propósitos científicos foram mais importantes do que o desejo de ocultar a realidade. Jacques Joseph Moreau, que é considerado por muitos o pai da psicofarmacologia, ingeriu haxixe em 1840 a fim de experimentar e descrever os efeitos na mente da intoxicação por cannabis. Moreau descreveu sensação de euforia, alucinações e incoerência, acompanhado de um fluxo de idéias extremamente rápido. O processo de intoxicação, para ele, era semelhante a uma doença mental. Ele também notou que as relações com a sociedade e o ambiente, assim como os aspectos psicológicos e emocionais foram profundamente alterados pelos efeitos da droga.

A experiência de Moreau com haxixe foi realizada a fim de observar os mecanismos das doenças mentais. Sem considerar a possibilidade dos efeitos serem permanentes, ele aconselhou alunos e amigos a compartilhar as extraordinárias experiências físicas e emocionais da intoxicação por haxixe. Um outro usuário desta época foi Teophile Gautier, talentoso poeta da era romântica. Ele estava tão excitado pelos efeitos alucinógenos da cannabis que organizou um encontro com seu círculo literário e na presença deste ingeriu uma grande quantidade de um potente extrato de haxixe. Aqui está como ele descreveu sua incrível experiência:

“A alucinação, este estranho convidado, instalou sua residência em mim. Fez parecer que meu corpo estava dissolvendo-se e tornando-se transparente. Eu vi dentro de mim o haxixe que comi, na forma de uma esmeralda radiando milhões de pequenas faíscas. Eu ouvia tudo a minha volta se despedaçando e desmoronando em forma de jóias multicoloridas. Eu ainda vi meus camaradas, algumas vezes, mas como plantas desfiguradas, meio plantas, meio homens. Um dos convidados falou me em italiano, sob a onipotência do haxixe ouvi em espanhol”.

A confusão de idiomas descrita tão claramente por Gautier é considerada sinal de profunda desorganização mental. Outro efeito observado por Gautier foi a forma e textura das suas alucinações:

“Por vários minutos eu me encontrei em plena serenidade e fiquei bastante espantado com o que aconteceu. Depois eu caí novamente sob efeito do haxixe. Milhões de borboletas, asas batendo como leques, permanentemente envolvida em atmosfera luminosa. Eu ouvi o som das cores: verde, vermelho, azul e amarelo ressonando em sucessivas ondas. Um copo ao avesso refletia em mim como um raio. Minha voz parecia tão potente que eu não me atrevi a falar por medo de destruir as paredes e explodir como uma bomba. Eu me desprendi completamente de mim mesmo, me ausentei do meu corpo, sensação odiosa de sentir na presença de seus conviveres. Eu experimentei os efeitos particulares do haxixe que te toma e te leva – sobe ao céu e cai bruscamente na terra – alternando momentos de lucidez com momentos de insanidade”.

Os amigos de Gautier ficaram tão impressionados com a experiência que decidiram chamar este grupo de “O Clube dos Comedores de Haxixe” e partilhar a experiência usando-a neles mesmos. Charles Baudelaire, outro membro, escreveu sobre sua experiência com haxixe:

“Os sons tem cores e as cores são musicais. Os olhos penetram no infinito e os ouvidos percebem os sons mais imperceptíveis no meio de sons desconexos. Os objetos tomam aparências monstruosas e revelam formas antes desconhecidas”.

Embora essas induções químicas às alucinações foram logo abandonadas por Gautier e seus amigos. Baudelaire continuou a usar haxixe e logo partiu para o ópio, da mesma forma que alguns usuários pesados de marijuana passam desta para a heroína. Quando finalmente reconheceu os perigos de usar estas drogas, ele escreveu:

“Como todos os prazeres solitários, despreza a individualidade em relação ao homem e o homem em relação à sociedade. O haxixe nunca revela ao ser nada além do que ele é. Além do mais, há um perigo fatal nestes hábitos: alguém que recorre a venenos para pensar logo não poderá mais pensar em tomar venenos”.

O namoro francês com os efeitos psicoativos da canabis é recente. Mas é uma história diferente da Inglaterra onde a droga serviu para diversos propósitos.

Para entender porque os ingleses usavam canabis, a historia desta como medicamento deve ser considerada. No inicio o lendário imperador chinês Shen Nung prescrevia canabis para “fraqueza feminina, gota, reumatismo, malaria, beribéri, constipação e como relaxante”, e um dos seus discípulos Hoa-Toh, diz ter misturado e criado um potente anestésico cirúrgico e analgésico. Por volta de 2000 a.C, na Índia e Oriente Médio, médicos prescreviam haxixe e bhang para várias doenças – sem nenhuma real evidência de que fizesse o paciente se curar, apenas fazendo com que ele esquecesse temporariamente sua dor.

A canabis veio para a medicina ocidental através de um médico que servia no serviço médico de Bengal para a Companhia das Índias Britânicas, chamado William O’Shaughnessy Brooke. Em 1839, depois de observar o uso da droga na Índia, ele escreveu um longo artigo numa revista médica de Calcutá relatando o proveitoso uso que obteve da canabis para tratamento de raiva, reumatismo, epilepsia e asma. Ele descobriu na droga um efetivo analgésico, anticonvulsionante, sedativo e relaxante muscular. “Na maconha a medicina encontrou um anticonvulsionante de grande valor”, escreveu ele usando o nome inglês (hemp) da planta.

Em uma época onde as patentes médicas eram muitas e a avaliação dos efeitos dos compostos praticamente inexistentes, qualquer protesto era suficiente para elevar uma substância à categoria de maravilhosa. Na Inglaterra, extratos de canabis eram prescritos para tratar diversas doenças. A partir dos registros médicos, as doses receitadas não eram grandes o suficiente para causar nem uma leve euforia.

Com os poderes de cura da canabis, os pacientes pareciam, de fato, ter alívio dos seus sintomas. Isso se deve provavelmente mais ao efeito placebo do que à ação da droga em si. Outro astuto médico da época, depois de tentar o uso da canabis em alguns pacientes, concluiu que “é difícil encontrar méritos para colocar a canabis na nossa lista de agentes medicinais”. E quanto mais medicamentos, como a aspirina, barbitúricos e agentes anestésicos iam sendo descobertos, a canabis ia perdendo espaço entre as recomendações médicas.

Nos EUA, o tipo fibroso da planta canabis foi cultivada na costa a partir de 1720. As fibras do caule eram usadas para produzir cordas, barbantes, tapetes, velas de barco, sacos, sacolas e tecidos de alta resistência. As sementes se tornaram fonte de óleo para sabões e para a produção de tintas e produtos semelhantes. Entre os muitos colonos que cultivavam maconha estava George Washington.

Os primeiros médicos estadunidenses copiaram os ingleses na prescrição de extratos da canabis para diversas doenças. A preparação usada por eles era feita a partir de um óleo verde-amarronzado importado da Índia, de consistência pastosa e odor aromático. Foi chamada Extrato Tilden de Cannabis Sativa Indica. Mais uma vez podemos dizer que o efeito de cura está mais para placebo ou relaxante muscular do que para um agente curativo.

A canabis, tipos entorpecente e fibroso, esteve disponível nos EUA pelo menos 100 anos antes do primeiro relato de intoxicação pelas suas propriedades. Isto aconteceu em 1855 por Fitz Lugh Ludlow, um brilhante jovem estudante de Poughkeepsie, Nova Iorque. Ludlow, ao que parece, era um psicofarmacologista amador que usava seu tempo livre examinando as varias substancias da farmácia de um amigo. Cheirando clorofórmio, por exemplo, descreveu a sensação de “estar nas asas de uma vida excitante”. Mas era a intoxicação por canabis que desencadeou a imaginação de Ludlow.

Naquela época uma pequena dose de Extrato Tilden, não mais que 6 grãos (1 grão: 64.8 miligramas/ grão: antiga medida inglesa) era recomendada para uma variedade de cuidados médicos, de epilepsia à problemas menstruais e reumatismo. Quando Ludlow, agindo por seus próprios instintos, aumentou a dose em 10 vezes, foi rapidamente capturado pela euforia do haxixe. Ele oscilou entre a tristeza profunda e o terror incontrolável; foi transportado à Veneza, aos Alpes, ao paraíso; depois seu coração começou a bater tão alto e tão forte que ele procurou ajuda de um médico.

Ludlow repetiu a experiência com haxixe muitas vezes, sempre usando Extrato Tilden. Quase sem compreender, tornou-se dependente da droga, usando-a diariamente para produzir alucinações que incrivelmente eram de cunho religioso. Finalmente, reconhecendo estar doente procurou ajuda de um médico e com considerável quantidade de sofrimento conseguiu se livrar do hábito do haxixe.

O problema de Ludlow não foi um caso isolado no começo da história estadunidense do uso da cannabis. Não foi antes de 1910, de fato, que a cannabis entrou nos EUA vinda do México. A substancia, fumada em cigarros, era amplamente usada por negros pobres e trabalhadores mexicanos no Texas e Louisiana. Quando o jazz tornou-se popular em Nova Orleans após a 1° guerra mundial, o hábito foi adotado por muitos músicos negros e a erva ficou associada com a mística do novo ritmo. Alguns diziam que a intoxicação dos “reefers” (reefer: músico fumador de maconha). E como o jazz e seus precursores subiram o Rio Mississipi para as cidades maiores do norte, a marijuana foi introduzida em um amplo segmento da população.

Em Louisiana, o uso da marijuana foi difundido o suficiente para despertar a preocupação pública, particularmente após uma série de reportagens sensacionalistas publicada pelo jornal New Orleans Morning Tribute. As histórias, de cunho altamente racista, acusavam os negros enlouquecidos de marijuana da maioria dos crimes hediondos cometidos em Louisiana. Isto foi o suficiente para desencadear uma onda de prisões e brutalidade policial contra a população negra da área.

Fora de Louisiana haviam alguns estadunidenses preocupados com o uso da marijuana que, como um observador escreveu, “era uma prática alienante ao básico estilo de vida americano”. Todavia, havia algumas pessoas que viam na marijuana uma ameaça potencial ao individuo e à sociedade. O mais ferrenho critico foi Harry Anslinger, diretor de escritório federal de narcóticos (Federal Bureal os Narcotics, FBN dos Eua). Para lhe atender, o congresso aprovou o Marijuana Tax Act em 1937 que proibia o cultivo, posse e distribuição dos derivados da maconha. As exceções foram feitas para a industria de cordas e de alimentos para pássaros que compravam quase 2 milhões de toneladas (2 million tons) de sementes de cannabis para preparo do alimento. Para ter certeza que nenhuma semente seria desviada para cultivo por traficantes de maconha, a lei exigia a esterilização de todas antes da distribuição.

O Marijuana Tax Act, que pela primeira vez colocou a cannabis sob controle federal, produziu uma pequena onda de critica por alguns médicos e cientistas. “Os perigos da marijuana para e saúde e a estrutura social dos EUA tem sido exagerados” disse um cientista. “A teoria da erva assassina foi difundida pelo FBN para assustar as pessoas e não para educá-las. E sem o suprimento de cannabis para propósitos experimentais, nunca poderemos descobrir se ela é boa ou má”.

Na verdade, os EUA foram meros cumpridores de suas obrigações internacionais aprovando o Marijuana Tax Act, extinguindo uma então realidade nacional existente. Em 1925, o Egito pediu a Convenção Internacional do Ópio para colocar a cannabis na mesma categoria dos opiáceos. Isto significou controle rígido do haxixe que atormentou o Oriente Médio por séculos. Os EUA, que era membro da convenção, apoiou vigorosamente a proposta egípcia ajudando a aprovar severas leis proibindo o cultivo e distribuição de cannabis sob qualquer forma.

A polemica não durou muito porque em 1937 a marijuana estava longe de ser uma ameaça nacional. Havia pouco entusiasmo em prolongar o debate que, como disse um congressista (deputado), “foi um apoio aos árabes”. Na verdade, não havia nos EUA um problema com drogas até o fim da 2° Guerra Mundial.

A primeira indicação de um iminente problema com a cannabis veio da Inglaterra, onde a recuperação pós-guerra e o insaciável mercado de trabalho trouxeram um grande fluxo de trabalhadores da Índia e da Turquia. Esses trabalhadores desembarcaram com o hábito de fumar cannabis que carregavam há gerações. O haxixe importado do Paquistão e Líbano tornou-se rapidamente e predileto, em preterimento à marijuana fraca de potencia desconhecida que costumavam fumar.

Pelas notórias razões da prolongada investigação científica, o habito de fumar marijuana foi logo adotado pela nova geração “swing” de jovens rapazes e moças. Por volta da década de 1950 até os dias atuais, o ato de fumar marijuana e haxixe cresceu concomitantemente à exposição das bandas de rock, grupos de canto popular, cafés e das culturas hippie e beatnik. Em maio de 1971, o jornal inglês Observer noticiou “fumar cannabis é parte estabelecida da cultura universitária, incrivelmente aceito pela academia e pelas autoridades policiais. Mas a ansiedade permanece”.

Nos EUA, na geração pós-guerra, agora no ensino médio e fundamental, era abundante, farto e desejoso experimentar cannabis. Foi também desencantador e rebelioso. Igreja, estado e família não eram valores nos quais um grande numero de jovens estavam interessados e motivados a cultivar, se revelando contra o que entendiam ser “vestígios irrelevantes do passado”. Liberdade e liberação eram as palavras chaves do dia. Qualquer um que supunha regulação era considerado repressor. Lá fora a fúria da guerra no Vietnã, dentro as inquietudes sociais e a sociedade consumista. Fumar marijuana tornou-se não só um passatempo prazeroso, mas também um sinal de comportamento independente e expressão da rebelião contra uma rígida e desoladora sociedade. O consumo de marijuana foi admitido e até mesmo promovido em alguns filmes como Easy Rider (contracultura) e Superfly (black exploitation, estrelado por negros, com trilha sonora baseada em funk, disco). Jornais, revistas, radio e tv tem repetidamente caracterizado os discursos pró marijuana e políticos radicais também tem feito sua parte na difusão da epidemia de marijuana através de sua imprensa alternativa e suas organizações. Alguns membros da velha geração também têm adotado uma atitude permissiva em relação à marijuana e proporcionaram um grande apoio à crescente demanda pela legalização da cannabis. Em 1970, Dr. John Kaplan, um distinto professor de direito internacional da Universidade de Stanford, publicou um livro chamado “Marihuana – A New Proibition”. Este estudo, que rapidamente se tornou “best-seller”, afirmava que fumar marijuana é menos perigoso que tabaco ou álcool e que isso, portanto, faz dela um produto com potencial para ser comercializado. (mas as evidências médicas citadas por Kaplan para indicar que marijuana era inofensiva eram, do ponto de vista médico, fragmentadas)

Tal se tornou o ambiente, e com a estimativa de que 20.000.000 de estadunidenses haviam fumado marijuana ocasionalmente ou regularmente, que parecia sensato pelo menos considerar uma mudança na atitude com respeito à droga. Além disso, até organizações responsáveis como a American Bar Association (direito) e a American Public Health Association (saúde) estavam pedindo a legalização. Porque punir moças e rapazes por algo que estavam fazendo abertamente, e com a aprovação legal, de fato, em muitas partes do país? E porque, em primeiro lugar, proibir uma substância que parecia tão inócua?

Essas questões, que eu quero dar ênfase, não são apresentadas claramente. A preocupação de muitas camadas de profissionais que tem construído a imagem da marijuana pe justificada. Um jovem de alguma parte do país pode não ser preso e condenado por posse de marijuana quando pessoas em outras áreas do país podem fumar abertamente sem medo de processo. Nunca foi meu ponto de vista que jovens usuários sejam presos e processados por posse de marijuana. Em virtualmente todos os casos, eles cederam à experimentação da marijuana apenas pela pressão do grupo, imaturidade ou dificuldades emocionais.

De qualquer modo, licenciar ou legalizar o uso da droga para a massa não quer dizer simplesmente quem é a favor e quem é contra a legalização, até que os resultados comportamentais sejam observados em todos que consomem a substância. O fator mais importante a ser considerado na formulação da nova legislação é: que efeitos a cannabis têm no organismo humano? Esta questão poderia ser respondida apenas por uma meticulosa e competente equipe de pesquisa médica. (já está provado que a discussão deve ser interdisciplinar, tal como trabalha o NEIP aqui no Brasil). Meus recentes exames da literatura do assunto e minhas observações passadas convenceram-me que sem pesquisa dos efeitos biológicos de fumar marijuana, legalizá-la seria um risco e nosso país poderia padecer seriamente possivelmente prejudicaria a saúde dos nossos filhos e netos.

Tradução: Márcio Rodrigues

terça-feira, 16 de março de 2010

Study Finds No Cancer-Marijuana Connection

Study Finds No Cancer-Marijuana Connection

By Marc Kaufman
Washington Post Staff Writer
Friday, May 26, 2006


Estudo não encontra conexão entre câncer e marijuana


O maior estudo deste tipo já realizado concluiu que fumar marijuana, mesmo regularmente e pesadamente, não leva ao câncer de pulmão.

As novas descobertas “foram contra nossas expectativas” disse Donald Tashkin da Universidade da Califórnia em Los Angeles, pneumologista que estuda marijuana há 30 anos.

“Nós supúnhamos que havia uma associação positiva entre o uso de marijuana e câncer no pulmão e esta associação seria maior quanto maior a quantidade fumada”, disse ele. “Nós não encontramos nenhuma ligação, em vez disso encontramos uma possibilidade de que possa ter efeito protetor”.

Órgãos de saúde federais e oficiais da agência antidroga vêm amplamente usando os trabalhos anteriores de Tashkin para afirmar os efeitos nocivos da droga. Tashkin disse que quando ele ainda acreditava que marijuana era fortemente prejudicial, os efeitos cancerígenos pareciam ser menos importantes do que pensava.

“Os primeiros trabalhos mostraram que marijuana contem tantas substancias cancerígenas quanto o tabaco”, disse. Entretanto a marijuana também contém a substância THC, que, afirma ele, pode combater o envelhecimento celular afastando-as esses tecidos do câncer.

O estudo de Tashkin, pelo National Institutes of Health's National Institute on Drug Abuse (instituto nacional para o abuso de drogas do instituto nacional de saude), envolveu 1.200 pessoas em Los Angeles que tinham câncer no pulmão, pescoço ou cabeça, e mais 1.040 pessoas saudáveis separadas por idade, sexo e localidade.

Todos foram perguntados sobre há quanto tempo usam marijuana, tabaco ou álcool. Os maiores fumadores de maconha tinham fumado mais de 22.000 cigarros de marijuana, os fumadores moderados entre 11.000 e 22.000. Tashkin observou que nem entre os maiores fumadores havia incidência relevante em nenhum dos três cânceres estudados.

“Esta é a maior pesquisa já feita, todos preencheram um criterioso e extenso questionário sobre o uso da marijuana”, diz Tashkin. Em todas as pesquisas podem haver enganos, nós controlamos todos os fatores adversos da melhor forma possível e por isso acreditamos na veracidade desses fatos”.

O grupo de Tashkin na David Geffen School of Medicine at UCLA concluiu que a marijuana pode originar risco de câncer em humanos jovens, cobaias de laboratório, e o fato dos fumadores de maconha aspirar mais profundamente e segurar a fumaça por mais tempo que os fumantes de tabaco expõe mais tempo às substancias tóxicas presentes em seus respectivos cigarros. Foi encontrado desta forma 50% mais toxinas carcerigenas em um cigarro de marijuana se comparado ao de tabaco.

Enquanto a associação entre marijuana e câncer não pode ser estabelecida, estudos apresentados pela American Thoracic Society International Conference, esta semana, mostrou a possibilidade 20 vezes maior de câncer no pescoço entre pessoas que fumam 2 ou mais maços de cigarro por dia.

O estudo do grupo de Tashkin se limitou a pessoas com menos de 60 anos, pois as pessoas a partir dessa idade geralmente não foram expostas à marijuana em sua juventude, mesmo que a maioria tenha tentado.


http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2006/05/25/AR2006052501729_pf.html

Haschisch

José Marti

Arabia: - tierra altiva
Sólo del sol y del harem cautiva
(...)

Un beso de mujer! - Yo lo he sabido
Es un muy dulce instante extra - vivido -
El árabe si llora,
Al fantástico haschisch consuelo implora.
El haschisch es la planta misteriosa,
Fantástica poetisa de la tierra:
Sabe las sombras de una noche hermosa
Y canta y pinta cuanto en ella encierra.
El ido trovador toma su lira:
El árabe indolente haschisch aspira
Y el árabe hace bien, porque esta planta
Se aspira, aroma, narcotiza, y canta.
Y el moro está dormido,
Y el haschisch va cantando,
Y el sueño va dejando,
Armonías celestes en su oído.
Muchos cielos ha el árabe, y en todos
En todos hay amor, - pues sin amores,
Qué azul diafanidad tuviera un cielo?
Qué espléndido color las tristes flores?
Y el buen haschisch lo sabe,
Y no entona jamás cántico grave.
Fiesta hace en le cerebro,
Despierta en él imágenes galanas;
El pinta de un arroyo el blando quiebro,
El conoce el cantar de las mañanas,
Y esta arábiga planta trovadora,
No gime, no entristece, nunca llora;
Sabe el misterio del azul del cielo,
Sabe el murmullo del inquieto río,
Sabe las estrellas y luz, sabe consuelo,
Sabe la eternidad, corazón mío!
(...)

Amor de mujer árabe! Despierta
Esta mi cárcel miserable muerta;
Tu frente por sobre mi frente loca:
Oh beso de mujer, llama a mi puerta!
Haschisch de mi dolor, ven a mi boca!

Publicado em: Revista Universal, Mexico, 1º de junho de 1875

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010



Pequeno Cito

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

International Association for Cannabinoids Medicine

Receptores Canabinóides

Várias células no cérebro e em outros órgãos contém proteínas especifícas que reconhecem o THC e alguns canabinóides, desencadeando outras funções celulares. Outros canabinóides não se metabolizam nesses receptores e manifestam seus efeitos de outras maneiras. A descoberta dos receptores especifícos canabinóides motivou a procura por ocorrências químicas naturais a partir desses receptores, chamadas reações endocanabinóides. Há pelo menos dois receptores canabinóides: Receptor CB1 e Receptor CB2. Os receptores CB1 são encontrados em alta concentração no interior do cérebro e na medula espinhal. Eles também estão presentes em células periperais e tecidos celulares (como neurônios, glândulas endócrinas, sistema linfático, coração e partes do trato digestivo-urinário). Os receptores CB2 se manifestam fundamentalmente no sistema linfático (leucócitos, baço, amigdalas) afetando o sistema imunológico , sendo também encontradas no cérebro.